quarta-feira, 17 de junho de 2015

Porque não tem peixe na Lagoa?




                                                              Carolina Monquelate


Entrevista realizada com o Presidente do Sindicato da Colônia dos Pescadores da Z3, Nilmar Conceição, ele fala sobre a safras frustadas e a situação da pesca na região.

Atualmente quantos pescadores possui em pelotas? 
Existem cerca de 1000 pescadores entre 1000 entre homens e mulheres. Tem o registro de pesca que é concedido pelo Ministério da Pesca em torno de 1000 pescadores possuem este registro. E tem o IBAMA que no caso licencia pescar diferentes tipos de peixes e no caso regulariza a atividade. Nós temos uma carteira e a licença para pescar e esta licença é concedida apenas aos homens. São 1000 pescadores entre homens e mulheres, mas licenciados pelo IBAMA em torno de 800 que obtém a carteira. 

Esses pescadores moram todos na Colônia Z3?

Não, estão divididos entre a Balsa, a Z3, Pontal da Barra, alguns Laranjal na Ponte do São Gonçalo, mas 80 %moram na z3.

Qual o período que é permitido pescar?
O período é de outubro de um ano até maio do ano seguinte. De junho a setembro não pescamos porque recebemos o seguro defeso. Este período é muito ruim para pesca por causa das chuvas. Com chuva não dá peixe.

Quem concede o seguro defeso?
Para pescador receber o seguro defeso ele necessita do licenciamento do IBAMA este ano que encaminhou o pedido foi o INSS antes era concedido pelo Ministério do Trabalho. São 04 parcelas de 1 salario mínimo para cada pescador, esta verba vem do fundo do amparo da pesca e o encaminhamento é feito pelo Sindicato da Colônia Z3e depois levada toda a documentação ao INSS.

Como foi a pesca este ano?
No período de outubro 2013 a maio de 2014 foi muito ruim, a lagoa não salgou e tivemos serias dificuldades. Em outubro de 2014 a maio de 2015 foi muito pior, nós estamos a duas safras no negativo. O camarão é o nosso forte e há duas safras ele não entra na lagoa. 
Quando não tem camarão pescamos outros peixes, mas não é o mesmo retorno financeiro porque o camarão é que dá o sustento das famílias pelo valor que custa. Os outros peixes têm um custo menor e nós nos baseamos na safra do camarão. De outubro a maio nós podemos pescar várias espécies de peixes, o camarão é liberado de fevereiro a maio temos quatro meses para pescar e faz duas safras que não temos camarão. 

Quais são os outros peixes pescados?
Tainha e corvina. A tainha pode pescar de outubro até maio e a corvina é de outubro a fevereiro. Nos tentamos cumprir, mas é difícil as vezes tem peixe e não podemos pescar por força da lei, como está acontecendo neste período nós tentamos preservar mas tem peixe.
Como tu diz parra o pescador não pescar é difícil. Mas a grande maioria respeita.

O que vocês atribuem a falta do camarão na lagoa?
Ano passado teve muita chuva no período que antecede a entrada da água salgada. Porque a nossa lagoa tem a ligação com o oceano se choveu muito aumenta o volume de chuvas que vem de Porto Alegre, Camaquã, Novo Hamburgo caem toda na lagoa tendência é subir o nível.
 Se acontecer ao contrario e chover pouco a lagoa e o oceano ficam no mesmo nível com isso oceano entra na lagoa e os peixes e o camarão conseguem entrar. As chuvas de Porto Alegre Camaquã tudo deságua aqui na lagoa e com isso não tem como entrar água salgada.
O principal fator é o climático, mas também tem outros motivos como a pesca predatória não podemos negar que tem alguns pescadores não licenciados pescam aí leva a crise que estamos enfrentando hoje. A pesca clandestina tem como agente conversa orientar, mas a natureza não tem como. Nós estamos em julho e a previsão é de bastante chuva. Mas os pescadores por experiência própria preferem que chova nos meses de junho e julho porque ainda daria tempo de esgota a água e a lagoa salgar mas se for como 2014 que  no mês de novembro ela estava cheia ai não tem jeito o camarão não entra.

Quem ajuda os pescadores quando não acontece a pesca?
Quando isto acontece acionamos o Ministério da Pesca, a prefeitura de Pelotas decreta estado de emergência e com isso pegamos um laudo com a FURG, que faz um acompanhamento da lagoa a atesta que realmente não entrou água do oceano. Após a universidade emitir o laudo o prefeito decreta e saímos a pedir em todos os órgãos públicos como Governo Federal e Estadual, CONAB, Ministérios enfim todos.
Em 2010 o caso foi semelhante ao que estamos vivendo hoje tivemos ajuda  do Mistério do Trabalho  e conseguimos duas parcelas extras do seguro defeso e também cestas básicas através do CONAB.
Em 2013 fez o mesmo processo burocrático e ganhamos duas cestas básicas do CONAB, um cartão emergencial do Governo do Estado no valor de R$ 300,00 e não tivemos parcelas extras do seguro defeso.
Em 2014 ganhamos cestas básicas do CONAB e a prefeitura complementou porque eram bem fracas.
Em 2015 conseguimos cestas básicas do CONAB não acionamos a prefeitura porque a cesta básica veio melhor não tivemos cartão emergencial e nem parcelas extras.

Como estão as dívidas dos pescadores?
As dividas só acumulam e aumentam mas temos um credito muito bom junto aos órgãos, mas tudo tem um limite. Em 2013 acionamos os financiamentos o Banco do Brasil abriu uma linha de credito muito boa para os pescadores. Nós precisamos pescar e para isso necessitamos de equipamentos, reformas dos barcos, troca de motores e com isso os pescadores contraíram dívidas ai fizemos uma renegociação com o banco e vamos renegociar novamente, não é por falta de vontade mas porque não temos como pagar as parcelas. 


Mulheres Redeiras


                                                              Carolina Monquelate

A Coleção Redeiras apresenta produtos produzidos pelas mãos de um grupo de artesãs da Colônia Z-3. Elas transformam lixo em arte, reciclando escamas de peixe, redes de pesca e couro de peixe. 
O grupo é orientado pelo Sebrae/RS, que executou o planejamento de cada etapa do projeto, desde a criação das peças até a administração da coleção. A ideia de formar o grupo surgiu da produção do artesanato que já existia na região.
Nauro Junior

As artesãs retiram do material que é descartado pelos pescadores a matéria prima para suas peças. O couro da corvina, tainha, cascuda e linguado, vira tecido para bolsas, chaveiros e detalhes ornamentais de lenços. As redes de pesca, que serviram para arrastar safras de camarão, se transformam em bolsas. 
 As carteiras e nécessaires são tecidas no tear. As escamas de peixe viram biojóias que são colares, pulseiras e brincos, que misturam escamas e prata, aliando criatividade ao requinte.
Nauro Junior

O processo de produção das peças é realizado através de grupos, algumas realizam as bijuterias, outras costuram, outras trabalham com o tear todo o trabalho é dividido e orientado pela designer de Porto Alegre Karine Fachim, as ideias são propostas e ela finaliza.
Atualmente os produtos estão distribuídos em 20 pontos de venda espalhados por todo o Brasil e na loja 47 do mercado público.
A história da vida dessas artesãs é tecida como das redes de pesca. Todas vivem na colônia dos pescadores e têm o sustento de suas famílias ligado à pesca. Com o surgimento do grupo de artesãs desempenham outro oficio além da pesca e ajudam suas famílias no sustento. 
Nauro Junior



Praia do Laranjal, seus encantos e história

                                                                     Andreza Mendes                                                                                                                                                                      


Foto: fanpage Praia do Laranjal/Vaguinho Viana
A praia do Laranjal, um dos mais belos e procurados pontos turísticos de Pelotas, é uma ótima opção de passeio, tanto no inverno como no verão. São areias brancas com coqueiros alinhados que embelezam o cenário. Com seus balneários Santo Antônio, Valverde e Balneário dos Prazeres, o Laranjal é banhado pela Lagoa dos Patos. As águas calmas são muito procuradas também por quem gosta de esportes aquáticos. Na praia, há ainda um lugar muito frequentado pelos visitantes: o trapiche. O cartão postal que foi destruído por um temporal em 2001 e estava interditado desde 2009 por recomendação do Ministério Público, foi reconstruído em 2012, para a alegria da população e dos turistas. Após a reforma da plataforma, construída em 1968, ela passou a ter 530 metros e áreas com assentos de madeira a cada 75 metros.

A pelotense Mariângela da Costa Rosa, 38 anos, é frequentadora assídua do Laranjal. "Adoro caminhar na praia, vou sempre que posso. Sábados e domingos são imperdíveis os passeios ao Laranjal. No verão tinha bicicletas para emprestar, daí eu ia quase todos os dias. Andar de stand up e caiaque é outra atração que o Laranjal oferece e nós vamos sempre, eu e minha turma de amigas.”, conta. 

“A noite tem tanta coisa para fazer que são poucas as noites para aproveitar esse lugar quase perfeito. Eu gosto mesmo é de banho de mar, mas aqui serve para fazer o que não dá para fazer lá no Cassino. Tínhamos casa na praia, mas acaba que a gente aproveita só no verão e no inverno, que é meio longo, acabávamos tendo que ir para arrumar e limpar e pouco passeávamos. Agora vamos só para passear, caminhar e tomar sol até no inverno, “lagartear” como dizemos, tomando chimarrão na praia. Tenho amigos de Porto Alegre que vem passar o fim de semana conosco e o passeio é no Laranjal, não querem fazer mais nada. Eu adoro o Laranjal, pra mim não tem coisa melhor do que ter uma lagoa desta a dez minutos de casa", complementa Mariângela

Foto: Agência RBS
Faça chuva ou faça sol, a professora Ceres Torres acorda cedo todos os dias para fotografar a praia do Laranjal, onde mora. Depois de registrar cada dia das quatro estações do ano, Ceres reuniu o material em um livro e mostrou o resultado recentemente no programa Mistura com Rodaika, da RBS TV. "Gosto muito de Pelotas, é minha cidade natal. E o Laranjal é o meu lugar escolhido no mundo", contou a professora. Veja o vídeo da reportagem.



No vídeo, imagens aéreas da praia do Laranjal


História do Laranjal

Foto: Divulgação



O Laranjal tem sua origem composta por partes de duas fazendas: Costa e Fontoura. O proprietário destas terras, Quincas Patrão, chamava-se Joaquim José D’ Assumpção e era natural de Lisboa. Após o seu falecimento, a propriedade foi sendo repassada aos seus herdeiros. A fazenda Fontoura passou a pertencer aos irmãos José Maria e Manuel Bento, que vieram a falecer em 1902 e 1896. Moravam os irmãos Fontoura na fazenda “Solar do Laranjal”, casa secular que ainda hoje existe e está em poder da filha de Antônio Augusto de Assumpção Junior, fundador da Vila residencial Balneário Santo Antônio. 
A fazenda da Costa está ligada à raiz do Laranjal devido ao casamento e consequente união de bens do casal Joaquim Augusto de Assumpção e Maria Francisca Mendonça de Assumpção. A Praia do Laranjal era usada como propriedade particular. A travessia era feita por uma balsa da família Assumpção, única forma de acesso à praia. 
O termo “Laranjal” foi motivado principalmente devido ao terreno arenoso propício à produção e cultivos de cítricos como laranja, bergamota e limão. Como a grande maioria das espécies frutíferas cultivadas nessa região possuía a cor de laranja na sua casca, a localidade foi coloquialmente sendo chamada de praia do Laranjal. 


Balneário Santo Antônio

No dia 31 de Janeiro de 1952, foi inaugurado oficialmente a Vila Residencial Balneário Santo Antônio. O traçado das ruas respeitou algumas figueiras adultas, sendo feito o contorno em volta delas. Até hoje se conservam preservadas, mas o resultado da urbanização, representado pelos loteamentos descritos anteriormente, embora constituam local aprazível para os moradores e em oportunidade de lazer para a população flutuante, apresenta gravíssimos problemas ambientais, sendo que os aspectos naturais não foram considerados na escolha dos sítios a lotear, tampouco no tecido urbano ou nas reservas de áreas públicas. Na avenida da orla da laguna, foram plantadas mudas de figueiras, intercaladas por jerivás (espécie de coqueiro típico da região). 

Balneário Valverde

Fundado por Arthur Augusto Assumpção, nascido na cidade de Pelotas no dia 11 de Abril de 1887, filho do médico Antônio Augusto Assumpção e de Leocádia Gomes da Silva Tavares de Assumpção. Da Estância do Laranjal, como herança, lhe coube um quinhão de terras, as quais ele batizou com o nome de “Villa Juditte”. Possivelmente, o nome dado ao estabelecimento homenageava sua esposa Judith de Assumpção de Assumpção. No ano de 1958, deu início ao loteamento do Balneário Valverde. Primeiramente, a obra tinha como responsáveis técnicos Mayer Menda e o engenheiro José Mabil de Ripoll. Depois, esses foram substituídos pelo arquiteto Geraldo Delanoy e pelo engenheiro Cícero Haical. Em relação à segunda etapa, o Balneário Novo Valverde, apresenta-se irregular. Seu memorial descritivo foi datado em 10 de março de 1960. 

Balneário Nossa Senhora dos Prazeres (Barro Duro)

O Balneário Nossa Senhora dos Prazeres tem suas origens na Estância Nossa Senhora dos Prazeres a qual na época do empreendimento de propriedade do casal Luiz de Assumpção, neto do Barão de Jarau, e sua esposa Amélia Augusta de Assumpção de Assumpção. No entanto, entre as referidas estâncias, essa possui mais terras do que as demais porque é constituída de duas heranças, sendo que da parte de Amélia engloba o que pertenceu aos Fontoura. Abrange o espaço compreendido entre a laguna dos Patos e o arroio Pelotas. O Loteamento foi idealizado por Luiz de Assumpção, seguindo os mesmos passos dos cunhados Antônio Augusto de Assumpção e Arthur Augusto Assumpção, os quais lotearam, respectivamente, o Balneário Santo Antônio e Balneário Valverde. Conforme certidão no Registro de Imóveis o loteamento inicia em 1953. Por motivos de saúde, quem deu seguimento para a conclusão do empreendimento foi o genro, José Ottoni Ferreira Xavier, casado com Maria de Lurdes Assumpção. Conforme cadastro na Prefeitura Municipal, o responsável pelo projeto do Balneário Nossa Senhora dos Prazeres era Benjamim Cordeiro Dias.







terça-feira, 16 de junho de 2015

A vida na Lagoa

Marisa Guimarães



O nome da Lagoa dos Patos estaria ligado às tribos de índios que habitavam a região do Rio Grande do Sul, conhecidos como “Patos”. Outra versão conta que a origem do nome desta laguna teria ocorrido em 1554, quando viajavam para a região do Prata algumas embarcações espanholas que, acossadas por um temporal, viram-se na contingência de procurar abrigo na barra do Rio Grande. Aí deixaram fugir alguns patos que traziam a bordo e de tal modo se deram bem as aves com o lugar, que se reproduziram assombrosamente, chegando a coalhar a superfície das águas da laguna, dando-lhe o nome. Tal fato não encontra corroboração em registros históricos.

A Lagoa dos Patos é uma laguna localizada no Rio Grande do Sul, sendo a maior laguna do Brasil e a segunda maior de toda a América do Sul (perde apenas para o Lago de Maracaibo, na Venezuela). Tem 265 quilômetros de comprimento, 60 quilômetros de largura, 7 metros de profundidade e uma superfície de 10 144 Km², estendendo-se na direção norte-nordeste-sul-sudoeste, paralelamente ao Oceano Atlântico. Esse ecossistema possui uma grande variedade de habitats naturais (campos alagados, banhados, lagos, rios, estuário) que propiciam condições ideais para o desenvolvimento e suporte de uma elevada biodiversidade. A Lagoa é classificada como a maior laguna do tipo estrangulado do mundo, com uma área de aproximadamente 10.227 km². O termo laguna refere-se, em geomorfologia, a uma depressão formada por água salobra ou salgada, localizada na borda litorânea, comunicando-se com o mar através de canal. Perto do seu estuário, ao sul, encontram-se as cidades de Rio Grande e São José do Norte que delimitam o Canal do Norte, na Barra do Rio Grande, onde ela se liga ao oceano. Comunica-se com a Lagoa Mirim, ao sul, pelo Canal São Gonçalo. A Lagoa dos Patos e outros exemplos de lagunas.


Da esquerda para direita: Lagoa dos Patos, Lago Maracaibo e a Turquia
















Entrevista com Dodoci

O pescador Claudionor Cleff Sanches, conhecido na Barra por ‘Dodoci’ conta os mistérios e encantos da Lagoa. Ele tem 70 anos, 17 filhos e uma ‘vida boa’, assim se define. “A Lagoa tem muito que ensinar pra gente”, diz ele. Quando fui de bote para o Oceano, naveguei 3.900 km e trouxe 6000 kg de peixe corvina, 188 kg de tubarão mangona, (como a foto), ele tem seis fileiras de dentes. É um peixe de hábitos noturno. Sabe que é muito melhor navegar à noite, porque a gente se guia pelas estrelas, quanto mais escura melhor, chega a ficar clara, completa Dodoci.


A Lagoa tem duas águas, explica o pescador. Quando o ano tem água doce, a safra vai ser um fracasso. Em setembro, tem de entrar água salgada para dar peixe e camarão no verão. Nós sempre sabemos se vai ter safra ou não. A miraguaia apareceu há 2 anos, mas não é muito comum encontrar por aqui. É uma festa quando se caça, porque além de ser um peixe grande, mais de 50 kg e medir 1,60cm, o pescador ganha foto e comemoração. A forma mais divertida de pescar a miraguaia é utilizando metal jigs, como na foto e a tralha, uma vara potente, para não cansar o peixe, porque é um animal robusto, com o corpo alto, alongado e levemente comprido e achatado, coberto por grandes escamas. Outros peixes comuns na Lagoa são o jundiá, a tambica, a traíra e o bagre.

De maio a setembro a lagoa fecha e ficamos remendando redes, preparando os barcos e vivendo do "defeso", o seguro do pescador. Agora estamos passando "envenenado" nos barcos por causa dos bichos d`água, que entra no casco e destrói tudo. Ele parece uma broca, vai se alimentando da madeira, engordando e fazendo estrago. Entra do tamanho de uma cabeça de alfinete e sai com diâmetro de mais de 10cm. Nós chamamos "minhocão", mas ninguém sabe o nome certo. Essa tinta que chamamos "envenenado", por enquanto é a solução para matar essa praga, assegura Dodoci.

Entrevista com a Deti

Na Colônia de pescadores Z3 encontramos com os moradores para conhecer e participar de suas vivências de zona pesqueira. Ali achamos as peculiaridades, os desejos e as expectativas da Deti, dona do restaurante de grande fama entre os turistas e os pelotenses que lá buscam sua arte na culinária. A simpatia, o jeito despretensioso e espontâneo de conversar, mais o encanto do lugar deixou a certeza de voltar para mais encontros. Ela fala com muito orgulho de seu trabalho e de sua família. O marido que chama de “Roxinho”, ganhou o apelido pela cor da pele roxa, trabalha consertando uma rede, enquanto ela fala gesticulando, contando suas façanhas. “Trabalho muito, cozinho e atendo o restaurante que é caseiro e familiar, dois dos quatro filhos me ajudam”, diz Deti. Mostra fotos que já colaborou com outros jornalistas até premiados com matérias e revistas, feitas em sua casa. 


Agora vai participar de um filme que vão fazer com os moradores da Colônia. “Somos muitos, nasci e me criei aqui, meus pais também”, diz ela, com satisfação. “Quero uma coisa muito especial, antes de completar 59 anos dia 6 de junho. Será que consigo aprender a dirigir”? Pergunta a senhora entusiasmada com a perspectiva de andar de carro numa reta, porque não sabe se vai aprender a dobrar. “Quero muito também estudar na faculdade”, completa a senhora, com um largo sorriso. 


Precisa fazer coisas que lhe tragam satisfação, parece estar fazendo uma contagem dos anos que passaram e ainda deseja coisas diferentes do que fez até aqui. É uma pessoa de bem com a vida, embora ainda tenha sonhos por realizar. Preza tratar as pessoas com respeito, servir e encantar com seus petiscos e atrativos culinários.  Deti fala da família filhos, netas e bisneto que nasceu há pouco. Conta rindo da neta que passou no ENEN e engravidou. Estavam dois dos filhos, a Renata que ajuda na cozinha e o Cesar que é segurança do Banrisul, e acompanhou toda a conversa, participando e contribuindo com informações da Colônia.
Sobre uma experiência emocionante conta ter recebido de surpresa o governador do estado, Olívio Dutra. Não tendo nada pronto, fritou uns biscoitos e serviu com café. Ele elogiou muito, gostou e se surpreendeu porque nunca tinha comido biscoito dessa maneira. Fala rindo que foi uma ideia maluca que deu certo. Abaixo, momentos da entrevista:







Entrevista com o filho da Deti 


Cesar, filho da Deti, mora na Colônia e trabalha na cidade. Fala com orgulho da mãe e de suas histórias. Certa vez, na fila do banco ouviu dois homens conversando sobre o restaurante da Colônia Z3. “Não deixa de ir comer peixe, é muito bom o lugar e a dona, uma petisqueira das boas, conversadeira e contadora de mentiras” disse o senhor. O rapaz fez questão de nos levar para mostrar sua casa e seus projetos. A morada fica a beira da lagoa, com uma área murada, onde pretende fazer um deque para um quiosque. Como a mãe, pensa em servir quitutes de pescado. Tem uma segunda renda com a venda de camarão e peixe, que vende na cidade. Cesar se refere aos pais com orgulho, simpatia e amor. “Eles se desentendem, mas a noite tem que deitar juntinhos”, diz ele com orgulho. Fala que é uma relação de mais de 40 anos, que não é como as de agora que as pessoas não têm tolerância e logo pensam em separação. “A mãe é assim ‘elétrica’ e o pai bem ‘paradão’, estão sempre juntos, não ficam longe um do outro”, completa Cesar. “É bom ver que se gostam e se cuidam”, diz com certa inquietude e logo fala de si. Tem um filho de 15 anos, vive com a mãe em Rio Grande. Namoraram desde criança, tinham 17 quando veio o bebê.