terça-feira, 16 de junho de 2015

A vida na Lagoa

Marisa Guimarães



O nome da Lagoa dos Patos estaria ligado às tribos de índios que habitavam a região do Rio Grande do Sul, conhecidos como “Patos”. Outra versão conta que a origem do nome desta laguna teria ocorrido em 1554, quando viajavam para a região do Prata algumas embarcações espanholas que, acossadas por um temporal, viram-se na contingência de procurar abrigo na barra do Rio Grande. Aí deixaram fugir alguns patos que traziam a bordo e de tal modo se deram bem as aves com o lugar, que se reproduziram assombrosamente, chegando a coalhar a superfície das águas da laguna, dando-lhe o nome. Tal fato não encontra corroboração em registros históricos.

A Lagoa dos Patos é uma laguna localizada no Rio Grande do Sul, sendo a maior laguna do Brasil e a segunda maior de toda a América do Sul (perde apenas para o Lago de Maracaibo, na Venezuela). Tem 265 quilômetros de comprimento, 60 quilômetros de largura, 7 metros de profundidade e uma superfície de 10 144 Km², estendendo-se na direção norte-nordeste-sul-sudoeste, paralelamente ao Oceano Atlântico. Esse ecossistema possui uma grande variedade de habitats naturais (campos alagados, banhados, lagos, rios, estuário) que propiciam condições ideais para o desenvolvimento e suporte de uma elevada biodiversidade. A Lagoa é classificada como a maior laguna do tipo estrangulado do mundo, com uma área de aproximadamente 10.227 km². O termo laguna refere-se, em geomorfologia, a uma depressão formada por água salobra ou salgada, localizada na borda litorânea, comunicando-se com o mar através de canal. Perto do seu estuário, ao sul, encontram-se as cidades de Rio Grande e São José do Norte que delimitam o Canal do Norte, na Barra do Rio Grande, onde ela se liga ao oceano. Comunica-se com a Lagoa Mirim, ao sul, pelo Canal São Gonçalo. A Lagoa dos Patos e outros exemplos de lagunas.


Da esquerda para direita: Lagoa dos Patos, Lago Maracaibo e a Turquia
















Entrevista com Dodoci

O pescador Claudionor Cleff Sanches, conhecido na Barra por ‘Dodoci’ conta os mistérios e encantos da Lagoa. Ele tem 70 anos, 17 filhos e uma ‘vida boa’, assim se define. “A Lagoa tem muito que ensinar pra gente”, diz ele. Quando fui de bote para o Oceano, naveguei 3.900 km e trouxe 6000 kg de peixe corvina, 188 kg de tubarão mangona, (como a foto), ele tem seis fileiras de dentes. É um peixe de hábitos noturno. Sabe que é muito melhor navegar à noite, porque a gente se guia pelas estrelas, quanto mais escura melhor, chega a ficar clara, completa Dodoci.


A Lagoa tem duas águas, explica o pescador. Quando o ano tem água doce, a safra vai ser um fracasso. Em setembro, tem de entrar água salgada para dar peixe e camarão no verão. Nós sempre sabemos se vai ter safra ou não. A miraguaia apareceu há 2 anos, mas não é muito comum encontrar por aqui. É uma festa quando se caça, porque além de ser um peixe grande, mais de 50 kg e medir 1,60cm, o pescador ganha foto e comemoração. A forma mais divertida de pescar a miraguaia é utilizando metal jigs, como na foto e a tralha, uma vara potente, para não cansar o peixe, porque é um animal robusto, com o corpo alto, alongado e levemente comprido e achatado, coberto por grandes escamas. Outros peixes comuns na Lagoa são o jundiá, a tambica, a traíra e o bagre.

De maio a setembro a lagoa fecha e ficamos remendando redes, preparando os barcos e vivendo do "defeso", o seguro do pescador. Agora estamos passando "envenenado" nos barcos por causa dos bichos d`água, que entra no casco e destrói tudo. Ele parece uma broca, vai se alimentando da madeira, engordando e fazendo estrago. Entra do tamanho de uma cabeça de alfinete e sai com diâmetro de mais de 10cm. Nós chamamos "minhocão", mas ninguém sabe o nome certo. Essa tinta que chamamos "envenenado", por enquanto é a solução para matar essa praga, assegura Dodoci.

Entrevista com a Deti

Na Colônia de pescadores Z3 encontramos com os moradores para conhecer e participar de suas vivências de zona pesqueira. Ali achamos as peculiaridades, os desejos e as expectativas da Deti, dona do restaurante de grande fama entre os turistas e os pelotenses que lá buscam sua arte na culinária. A simpatia, o jeito despretensioso e espontâneo de conversar, mais o encanto do lugar deixou a certeza de voltar para mais encontros. Ela fala com muito orgulho de seu trabalho e de sua família. O marido que chama de “Roxinho”, ganhou o apelido pela cor da pele roxa, trabalha consertando uma rede, enquanto ela fala gesticulando, contando suas façanhas. “Trabalho muito, cozinho e atendo o restaurante que é caseiro e familiar, dois dos quatro filhos me ajudam”, diz Deti. Mostra fotos que já colaborou com outros jornalistas até premiados com matérias e revistas, feitas em sua casa. 


Agora vai participar de um filme que vão fazer com os moradores da Colônia. “Somos muitos, nasci e me criei aqui, meus pais também”, diz ela, com satisfação. “Quero uma coisa muito especial, antes de completar 59 anos dia 6 de junho. Será que consigo aprender a dirigir”? Pergunta a senhora entusiasmada com a perspectiva de andar de carro numa reta, porque não sabe se vai aprender a dobrar. “Quero muito também estudar na faculdade”, completa a senhora, com um largo sorriso. 


Precisa fazer coisas que lhe tragam satisfação, parece estar fazendo uma contagem dos anos que passaram e ainda deseja coisas diferentes do que fez até aqui. É uma pessoa de bem com a vida, embora ainda tenha sonhos por realizar. Preza tratar as pessoas com respeito, servir e encantar com seus petiscos e atrativos culinários.  Deti fala da família filhos, netas e bisneto que nasceu há pouco. Conta rindo da neta que passou no ENEN e engravidou. Estavam dois dos filhos, a Renata que ajuda na cozinha e o Cesar que é segurança do Banrisul, e acompanhou toda a conversa, participando e contribuindo com informações da Colônia.
Sobre uma experiência emocionante conta ter recebido de surpresa o governador do estado, Olívio Dutra. Não tendo nada pronto, fritou uns biscoitos e serviu com café. Ele elogiou muito, gostou e se surpreendeu porque nunca tinha comido biscoito dessa maneira. Fala rindo que foi uma ideia maluca que deu certo. Abaixo, momentos da entrevista:







Entrevista com o filho da Deti 


Cesar, filho da Deti, mora na Colônia e trabalha na cidade. Fala com orgulho da mãe e de suas histórias. Certa vez, na fila do banco ouviu dois homens conversando sobre o restaurante da Colônia Z3. “Não deixa de ir comer peixe, é muito bom o lugar e a dona, uma petisqueira das boas, conversadeira e contadora de mentiras” disse o senhor. O rapaz fez questão de nos levar para mostrar sua casa e seus projetos. A morada fica a beira da lagoa, com uma área murada, onde pretende fazer um deque para um quiosque. Como a mãe, pensa em servir quitutes de pescado. Tem uma segunda renda com a venda de camarão e peixe, que vende na cidade. Cesar se refere aos pais com orgulho, simpatia e amor. “Eles se desentendem, mas a noite tem que deitar juntinhos”, diz ele com orgulho. Fala que é uma relação de mais de 40 anos, que não é como as de agora que as pessoas não têm tolerância e logo pensam em separação. “A mãe é assim ‘elétrica’ e o pai bem ‘paradão’, estão sempre juntos, não ficam longe um do outro”, completa Cesar. “É bom ver que se gostam e se cuidam”, diz com certa inquietude e logo fala de si. Tem um filho de 15 anos, vive com a mãe em Rio Grande. Namoraram desde criança, tinham 17 quando veio o bebê.











          

                                                   

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